Quando se fala de saúde oral, a lavagem dos dentes é um dos principais pontos a abordar. Os médicos dentistas recomendam escovar os dentes três vezes por dia, depois das refeições, para evitar cáries. Mas estaremos a fazer este processo da forma correta?

Nas redes sociais há quem defenda que, depois da escovagem dos dentes, não devemos bochechar com água, mas sim cuspir a pasta de dentes e deixá-la a atuar. Em declarações ao Viral, duas especialistas em medicina dentária explicam se este conselho partilhado online tem fundamento.

Bochechar ou não bochechar depois de lavar os dentes?

As mais recentes recomendações emitidas pelas entidades internacionais de medicina dentária avançam que o procedimento correto para a lavagem dos dentes não deve incluir o ato de bochechar ou passar a boca por água depois de lavar os dentes. Ou seja, após a escovagem, devemos apenas cuspir a espuma que se formou. Mas porquê?

Em declarações ao Viral, Sofia Batista, odontopediatra e autora da página Doutora Dentinhos, explica que, “ao passar a boca por água, estamos a tirar o flúor”, o que faz com que “o efeito remineralizante, que ajuda a proteger os dentes, se perca”. 

“É necessário que o flúor esteja presente topicamente, depois da lavagem, para tornar o esmalte mais resistente e diminuir o efeito das bactérias cariogénicas (que provocam cáries)”, sustenta.

No mesmo sentido, a médica dentista Inês Guerra Pereira esclarece que “é bom que a pasta dos dentes fique na boca”. Ao ficar em contacto com a saliva, os iões de flúor presentes na pasta de dentes “vão ficar disponíveis para remineralizar os dentes”. 

O flúor é um importante componente da pasta, não só porque previne o aparecimento de cáries dentárias através da remineralização do dente, como também porque controla a acidez da boca provocada pelos alimentos. 

“Sempre que comemos, perdemos minerais nos dentes. A remineralização com o flúor previne a cárie”, acrescenta a especialista.

As indicações divulgadas pela Federação Dentária Mundial (FDI, na sigla inglesa) aconselham a “não enxaguar com água logo após a escovagem”, uma vez que este ato “pode remover o flúor protetor”. Em vez de passar a boca por água, devemos “cuspir o excesso de pasta de dentes”. 

Em Portugal, o Plano Nacional de Promoção Oral não faz uma referência direta ao ato de bochechar após a lavagem. No entanto, destaca a importância da ação tópica dos fluoretos na prevenção das cáries. 

“A ação preventiva e terapêutica dos fluoretos é conseguida, predominantemente, pela sua ação tópica, quer nas crianças, quer nos adultos. Para além da potenciação do processo de remineralização, o flúor promove a inibição da ação da placa bacteriana e, a prazo, dificulta o processo de desmineralização”, lê-se no documento.

Numa diretiva publicada em 2005 pela Direção-Geral de Saúde (DGS), a explicação da técnica de escovagem dos dentes não inclui o bochechar ou passar a boca por água. As autoridades recomendam a escovagem de dois dentes de cada vez, com “pequenos movimentos vibratórios horizontais ou circulares”, repetidos aproximadamente 10 vezes (cinco, nas crianças até seis anos).

As recomendações mais atuais da DGS referem ainda que a pasta de dentes deve ter entre 1.000 e 1.500ppm (partes por milhão) de flúor, uma quantidade que está comprovada ter efeitos na remineralização dos dentes, sem repercussões negativas na saúde. 

Além disso, é importante garantir que os restos de comida são corretamente removidos dos dentes, para que o ião flúor possa atuar sobre o esmalte do dente.

Um estudo realizado em Portugal e publicado em 2018 revela que “65% dos participantes lava os dentes pelo menos duas vezes por dia, incluindo antes de ir dormir” – um valor que vai ao encontro do que é definido no Plano Nacional de Promoção Oral. 

Bochechar com elixir: será uma opção?

Se bochechar com água depois da lavagem dos dentes não é aconselhado, será que é recomendado fazê-lo com colutórios, também conhecidos como elixires bucais? Depende da concentração de flúor existente no elixir, mas, no geral, o efeito será muito semelhante ao da água.

“Não existe nenhum colutório no mercado com uma quantidade de flúor igual ao da pasta”, afirma Sofia Batista. 

Enquanto as pastas têm pelo menos 1.000ppm, os elixires podem ter uma menor concentração (por exemplo, 500ppm). Isto significa que a utilização do elixir “não vai ajudar a manter a quantidade de flúor para o efeito tópico”, acrescenta a especialista.

Além disso, a utilização sistemática de elixires poderá ter efeitos contraproducentes na saúde oral. A odontopediatra lembra que é importante que a utilização de colutórios seja orientada por um médico dentista.

A utilização de soluções para bochecho com flúor está também presente no Plano Nacional de Promoção Oral. A DGS sublinha que “o bochecho com solução fluoretada a 0,2%” constitui “um reforço de uma aplicação tópica de flúor” e deve ser “efetuada quinzenalmente” nos jardins-de-infância e escolas.

A lavagem correta dos dentes é um fator importante na prevenção da cárie e na manutenção da saúde oral. Este procedimento deve ser seguido desde o nascimento do primeiro dente, seguindo sempre as indicações do médico dentista.